Como pensar ainda é livre, me permito alguns devaneios e ensaios chorosos sobre o politicamente correto. Afinal, quem somos nós para imprimirmos no outro a nossa vontade?
Porque as pessoas precisam deixar de ser o que de fato são
para serem aceitas, ou melhor, serem respeitadas?
As pessoas de um modo em geral não precisam ficar presas ao politicamente correto, que a meu ver nem deveria existir. Caberia aqui o humanamente correto, que pressupõe a empatia e o respeito como pontos de partida para uma convivência saudável e evoluída em sociedade.
Seria uma terceira opção, afinal não precisamos viver de extremos, é possível pensar de maneira global e plural, muito embora ainda caiba aqui a releitura desta charge de Quinho Cartum publicada em 2012 no Estado de Minas, e exibida no Programa do Jô Soares.
Ela é provocativa e direciona o pensar para Monteiro Lobato, considerado o pai da literatura infantil no Brasil, que morreu de derrame, no dia 4 de julho de 1948, em São Paulo.
Tia Nastácia será a Angélica. Vamos lá loira e empreendedora. Fica claro aqui que a cor da pele torna-se impeditivo de realização pessoal e profissional. É isso mesmo?
O Saci usará uma prótese. É como se o Saci não pudesse ser uma pessoa com deficiência, está certo que sua condição pode ser melhorada com uma prótese, contudo se for de sua vontade. E confesso que ainda não sei como não disseram que ele não poderia ser negro.
O Rinoceronte vai para reserva ou zoológico. Por ser um animal selvagem não pode conviver no Sítio do Pica Pau Amarelo, mesmo este sendo o mundo da fantasia, da imaginação, em que supõe-se que podemos ser qualquer coisa.
A Narizinho fará uma rinoplastia. Dizer adeus ao nariz arrebitado, uma característica física, que o autor atribuiu outros adjetivos associados a isso, não seria muito doido?
A Emília terá um selo do INMETRO*. Ora será que a riqueza desta personagem justamente não se dá, pelo fato de ser espevitada, tagarela e criadora de casos?
Por qual razão não podemos olhar as pessoas empaticamente? Cada vez mais vemos um mundo que impõe condições para se fazer parte dele tipicamente, isto é muito cansativo, chato! Ainda é preciso ensinar, educar as pessoas a conviver com a diferença. Trata-se de não estigmatizar as pessoas por aquilo que elas são.
Vamos nos permitir sair das caixas que nos aprisionam, aos esteriótipos tidos como politicamente corretos. Eu não tenho que deixar de ser o que sou para ser aceito por você pelo que você é ou pensa. Seu direito termina quando começa o do outro, já dizia a minha mãe.
Cada personagem de Lobato apresenta a sua essência única, e é por isso que são incríveis por serem eles próprios, ou serem personagens criados por aquele que permitiu que eles se tornassem tão encantadores para grande parte dos leitores que apreciam a sua obra.
Essa liberdade do pensar não pode ser boicotada jamais, podemos mudar de ideia sim, e nem por isso deixarmos de sermos pessoas de valor. É isso aí!
(*)O Inmetro é o órgão federal responsável por informar à sociedade sobre os detalhes referentes aos diversos produtos disponíveis no mercado. A presença do selo do Inmetro atesta que o produto foi fabricado de forma a respeitar e atender aos requisitos de uma norma ou regulamento técnico.
Gisele de Luna, Psicóloga, Cerimonialista, Recreadora
Educativa, Mãe típica e atípica. Especialista em Educação Especial com ênfase
em Deficiência Intelectual, Física e Psicomotora. Empresária, acredita que
"Em um mundo plural tornar um evento único é o seu desafio."
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